quinta-feira, 31 de julho de 2014

O homem que fala com ações e a festa das máscaras

Karoro Mebêngokre. Foto: Anne Vilela

Aldeia Multiétnica é um evento que reúne diversos povos indígenas, buscando visibilizar a diversidade cultural desses povos, tratando das diferenças culturais que existem entre eles e suas comunidades, desconstruindo a homogeneização dos elementos culturais. O espaço mostra a variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, de cada grupo, em determinado assunto, situação ou ambiente de cada povo. Portanto, conhecer as particularidades de cada um, fortalece a identidade cultural e o respeito à diversidade. O texto abaixo descreve um ritual dos Kayapó, a festa das máscaras, um dos elementos de expressão cultural da comunidade. (Nathalia Correia)


No contorno da aldeia está Karoro. Com uma enxada, prepara com prontidão o espaço: seu povo, os Mebêngôkre, está chegando, mais uma vez, para a Aldeia Multiétnica. Ao lado está sua mulher: sorridente e silenciosa – não fala português. O ancião, por outro lado, conhece bem a língua, fala sucinto em palavras e é tagarela em expressões.

Os Mebêngôkre, mais conhecidos como Kayapó, trarão uma de suas principais celebrações para a Aldeia Multiétnica no começo da próxima semana. A festa das máscaras, como é chamado o ritual, dura três dias e dá vida aos mais variados animais no pátio de terra. “Um casal de tamanduá, dez macacos e três ou quatro guaribes”, explica. Karoro, no desenrolar da contação, vai além de descrições. Entre um passo de dança e outro, explica como o festejo se dá. Entre uma cantoria e outra, faz com que um pouco daquela manifestação já floresça na terra avermelhada da Aldeia. Karoro fala com ações.


Nas aldeias dos Mebêngôkre, espalhadas pelos afluentes do Rio Xingu, a festa acontece na volta da caçada. Na comunidade, esse processo costuma durar cerca de três semanas. Quando os guerreiros voltam, a comemoração é instaurada e rege, com beleza, a vida daquelas pessoas por mais um mês. Os homens, exceto alguns mais velhos, exibem as mais diversas máscaras: feitas com palha, trançadas num manejo trabalhoso e que cobrem todo o corpo.

Lá, ainda se vive de caça, pesca e roça. Ainda assim, essa comunidade carece de proteção. Karoro é certeiro: “Tinha interesse em aprender português para ajudar meu povo”. Por isso, ainda jovem, há cerca de cinquenta anos, começou a se familiarizar com a língua. A própria questão da nomenclatura é problemática para essas pessoas. O ancião, já não tão expressivo, aparenta insatisfação: “Os homens brancos colocaram um nome para nós, Kayapó”. O termo começou a ser usado no século XIX, no entanto ainda não é aceito pelo povo. E, pelo que se vê, jamais será. “Eu sou Mebêngôkre, não sou Kayapó”, conta, assertivo. Com seus gestos, danças e cantorias, Karoro é expressão da força de seu povo.


Fonte: www.encontrodeculturas.com.br

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