quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Marambiré: festa da resistência

Descrição para cegos: cena do documentário mostra dezenas de quilombolas com trajes tradicionais em procissão pela rua de terra batida na comunidade de Pacoval. À esquerda, moradores assistem à procissão passar.
Por Nayla Georgia

Sons idílicos da natureza descortinam o início de Marambiré, como que a convidar o espectador a imergir no cenário bucólico que se segue: um pescador, solitário em seu barco, exercendo o ofício de seus pais e avós. Essa cena, tão simbólica quanto taciturna, no entanto, é abruptamente cortada por um coro animado de vozes, acompanhado de uma percussão energética em procissão - um recorte vivo de uma comunidade quilombola cujo histórico de resistência significa celebrar a vida a despeito das adversidades.
Marambiré é uma dança religiosa de matriz africana, gestada por séculos de sincretismo religioso. O documentário dirigido por André dos Santos se estrutura em torno de entrevistas. Ora com figuras-chave do movimento - que didaticamente explicam o passo-a-passo da realização da festa do marambiré -; ora com acadêmicos que ajudam a esclarecer fatos controvertidos, a exemplo do significado etimológico de "marambiré".

Durante os 80 minutos de filme, o diretor se esquiva de proselitismos, optando por uma direção não intrusiva, que concede não só voz aos membros do quilombo, mas controle sobre a própria narrativa. Uma abordagem que reconhece e valoriza o bem cultural diante de si. O que é realçado pela excelente edição: intercaladas às entrevistas, registros (preciosíssimos para a posteridade dos estudos antropológicos no Brasil) do marambiré em ação, que contam com a comunidade em uníssono dando continuidade a uma tradição cultural que remonta a séculos de luta e resistência. Marambiré é um verdadeiro testemunho de um Brasil que se recusa a desaparecer.

O documentário

O documentário Marambiré, do diretor André dos Santos – que nasceu na comunidade quilombola de Boa Vista no Pará –, mostra a manifestação cultural dos remanescentes de quilombos da comunidade do Pacoval, no município de Alenquer, localizado no oeste paraense. O projeto foi contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural e foi com esse apoio pôde ganhar vida. 

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