Por Nayla Georgia
Sons idílicos da natureza descortinam
o início de Marambiré, como que a
convidar o espectador a imergir no cenário bucólico que se segue: um pescador,
solitário em seu barco, exercendo o ofício de seus pais e avós. Essa cena, tão
simbólica quanto taciturna, no entanto, é abruptamente cortada por um coro
animado de vozes, acompanhado de uma percussão energética em procissão - um
recorte vivo de uma comunidade quilombola cujo histórico de resistência significa
celebrar a vida a despeito das adversidades.
Marambiré é uma dança religiosa de
matriz africana, gestada por séculos de sincretismo religioso. O documentário
dirigido por André dos Santos se estrutura em torno de entrevistas. Ora com
figuras-chave do movimento - que didaticamente explicam o passo-a-passo da
realização da festa do marambiré -; ora com acadêmicos que ajudam a esclarecer
fatos controvertidos, a exemplo do significado etimológico de
"marambiré".
Durante os 80 minutos de filme, o diretor
se esquiva de proselitismos, optando por uma direção não intrusiva, que concede
não só voz aos membros do quilombo, mas controle sobre a própria narrativa. Uma
abordagem que reconhece e valoriza o bem cultural diante de si. O que é
realçado pela excelente edição: intercaladas às entrevistas, registros
(preciosíssimos para a posteridade dos estudos antropológicos no Brasil) do
marambiré em ação, que contam com a comunidade em uníssono dando continuidade a
uma tradição cultural que remonta a séculos de luta e resistência. Marambiré é um verdadeiro testemunho de
um Brasil que se recusa a desaparecer.
O documentário
O documentário Marambiré, do diretor André dos Santos – que nasceu na comunidade quilombola
de Boa Vista no Pará –, mostra a manifestação cultural dos remanescentes de
quilombos da comunidade do Pacoval, no município de Alenquer, localizado no
oeste paraense. O projeto foi contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural e
foi com esse apoio pôde ganhar vida.
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