Descrição para
cegos: fotografia de uma queda d’água. A água escorre por grandes rochas no
centro da foto. Nos cantos superiores vemos folhas de árvores. (Foto Nayla
Georgia).
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Por Nayla Georgia
Eles só
entraram. Ninguém chamou, nem sequer deixou. Mas eles entraram. Caí. Represaram
a água que corria para o Karabixexe e
destruíram nossa redenção. Não bastou grito, choro ou confusão. Caí. Levaram
nossos bisavós e as memórias que eles deixaram. Caí. Mataram a mãe e caí de
novo. Mas e quem ficou para botar ordem na nossa casa? Aliás, Dekuka’a já nem existia mais. E
novamente, caí.
Lembro-me
do paraíso como se fosse ontem. Era como mulher: transbordava de beleza e
força. E lá a gente ia sempre quando precisava tomar aquele sopro de coragem.
Respirava, se banhava e a mãe aconselhava. Como é que vai ser agora?
O pajé disse que os antepassados
queriam saber por que não tinham mais morada. Dava pra ver no olho dele uma
tristeza tão grande que só poderia ser curada em Karabixexe. Será que tem cura agora? No olho dele, eu caí.
Veio um Pariwat todo
vestido de preto falar com a gente, dizer que tinham violado nossos direitos.
Ora, tinham violado mais que isso. Nossos peixes, nossos animais, nossas
aldeias e os pais de nossos pais. E agora? Como é que o índio Munduruku acha
paz? Na sétima queda, eu sucumbi.
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