sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O Munduruku e as sete quedas

Descrição para cegos: fotografia de uma queda d’água. A água escorre por grandes rochas no centro da foto. Nos cantos superiores vemos folhas de árvores. (Foto Nayla Georgia).
Por Nayla Georgia

        Eles só entraram. Ninguém chamou, nem sequer deixou. Mas eles entraram. Caí. Represaram a água que corria para o Karabixexe e destruíram nossa redenção. Não bastou grito, choro ou confusão. Caí. Levaram nossos bisavós e as memórias que eles deixaram. Caí. Mataram a mãe e caí de novo. Mas e quem ficou para botar ordem na nossa casa? Aliás, Dekuka’a já nem existia mais. E novamente, caí.
        Lembro-me do paraíso como se fosse ontem. Era como mulher: transbordava de beleza e força. E lá a gente ia sempre quando precisava tomar aquele sopro de coragem. Respirava, se banhava e a mãe aconselhava. Como é que vai ser agora?
O pajé disse que os antepassados queriam saber por que não tinham mais morada. Dava pra ver no olho dele uma tristeza tão grande que só poderia ser curada em Karabixexe. Será que tem cura agora? No olho dele, eu caí.


Veio um Pariwat todo vestido de preto falar com a gente, dizer que tinham violado nossos direitos. Ora, tinham violado mais que isso. Nossos peixes, nossos animais, nossas aldeias e os pais de nossos pais. E agora? Como é que o índio Munduruku acha paz? Na sétima queda, eu sucumbi.

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