Quem acompanha o
mundo do futebol provavelmente já ouviu o jargão "a língua da bola é
universal". E é disso que trata o texto abaixo, que mostra como o esporte
mais popular do Brasil tem uma função social e cultural em nosso país, e até no
mundo inteiro. Em várias ligas, como a espanhola, a inglesa, a alemã e a francesa,
os times são formados por jogadores de nacionalidades e culturas diferentes,
mas quando a bola rola, todas as diferenças ficam em segundo plano. (Élison
Silva)
O
futebol sempre terá suas particularidades se comparado com outras ações
culturais. Esse fato proporciona um estudo singular do meio social através das
“lentes da bola”. Os aspectos sociais contidos na experiência de sua prática
permitem uma boa análise sobre a identificação, a significação e até o valor
que ele tem na vida de seus personagens, principalmente quando estes são os
jovens.
Esse
esporte é um fenômeno cultural caracterizado pela participação e integração de
todos, independentemente de classe social ou econômica.
É nesse meio que ocorrem importantes trocas de valores e a interação entre todos que dele fazem parte e o vivenciam, cada um de uma forma e com um significado particular. Surgem a partir do “mundo do futebol” novos conceitos e fusões culturais, reinventando significados sociais e aproximando extremos que, se não fosse o futebol, dificilmente trocariam experiências e vivências, como pode-se entender a partir da fala do antropólogo Roberto DaMatta, alertando a todos sobre o papel do futebol como formador e gerador cultural:
É nesse meio que ocorrem importantes trocas de valores e a interação entre todos que dele fazem parte e o vivenciam, cada um de uma forma e com um significado particular. Surgem a partir do “mundo do futebol” novos conceitos e fusões culturais, reinventando significados sociais e aproximando extremos que, se não fosse o futebol, dificilmente trocariam experiências e vivências, como pode-se entender a partir da fala do antropólogo Roberto DaMatta, alertando a todos sobre o papel do futebol como formador e gerador cultural:
(…)
O fato é que o futebol tem sido uma ponte efetiva (e afetiva) entre a elite que
foi buscá-lo no maior império colonial do planeta, a civilizadíssima
Inglaterra, e o povo de um Brasil que, naqueles mil oitocentos e tanto, era
constituído de ex-escravos. Juntar brancos e negros, elite senhorial e povo
humilde foi sua primeira lição. O futebol demonstrou que o desempenho é
superior ao nome da família e a cor da pele. Ele foi o primeiro instrumento de
comunicação verdadeiramente universal e moderno entre todos os segmentos da
sociedade brasileira. Ele tem ensinado a agregar e desagregar o Brasil por meio
de múltiplas escolhas e cidadanias. [trecho exposto no Museu do Futebol em São Paulo]
Cada
qual que envolve-se direta ou indiretamente com esse esporte e o encara de
diferentes formas. Vários “pontos de vista” são formados através das mesmas
realizações e atividades efetivadas nesse espaço – a imagem do futebol está
atrelada diretamente ao olho de quem o vê.
A
“vida em campo” se entrelaça à “vida real” (fora de campo, no dia-a-dia). Esses
dois focos se embaralham e interagem entre si, num vai e vem de simbolismos. O
campo de futebol torna-se um mundo à parte que, querendo ou não, também possui
suas regras e normas, ora se aproximando das leis funcionais do cotidiano, ora
criando seus próprios códigos.
Há
uma reinvenção do real. O futebol passa a ser um espaço de imersão para quem o
pratica. Esquecem-se por momentos obrigações e deveres e vive-se algo novo e
diferente do “palpável”. Uma espécie de ficção dentro da própria realidade.
Torna-se,
assim, com a interação entre todos que o praticam, um ambiente pluralizado em
todos os seus sentidos, até mesmo político. A partir desse momento, o futebol
ganha “sotaques”. Nem todos passam a se comunicar da mesma forma – todos
“dialogam”, no entanto, informações são perdidas ou não entendidas. A linguagem
desse esporte, apesar de ser “única”, pode apresentar dificuldades de
concessões, não para a prática do próprio esporte, mas, principalmente, para a
vivência social e cultural dos indivíduos que vivem e constroem esse ambiente.
Desse
modo, o universo futebolístico passa a representar uma mostra das injustiças do
“mundo real” e, às vezes, amplia e potencializa essas mazelas, atingindo até de
forma mais intensa e severa do que o próprio meio social vivido pelo indivíduo.
É
dessa forma o futebol ganha importância como mediador sócio-político-cultural e
relata as diferentes roupagens que essa prática esportiva ganha de acordo com
quem a exercita. Um menino do Morro do Cantagalo que tem no futebol, talvez, a
sua única fonte de lazer e fuga da realidade social e também uma das poucas
chances de ascensão na vida financeira, não o vê nem o vive da mesma forma que
outro menino, morador do Leblon, filiado à escolinha de um clube de renome.
Ainda
que perpassem por muitos pontos de interseção, esses dois meninos descritos
possuem mais diferenças que igualdades na realização dessa prática. Jogam
futebol por motivos e estímulos diferentes e buscam respostas e resultados
diferentes.
Os
meios se são “distintos”, por assim dizer, com regras e conceitos próprios,
principalmente no que diz respeito à interpretação do praticante do esporte –
os “mundos reais” não são os mesmos. Isso torna a prática realizada por ambos,
embora, aparentemente a mesma, diferentes entre si. Não existe, assim, um
único “universo do futebol”, mas sim universos. O Brasil na verdade, nunca foi
o país do futebol, mas sim dos “futebóis”.
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