quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Muito além do externo



Embora a palavra "cultura" seja comumente usada no nosso vocabulário, a complexidade do seu significado ainda é ignorada pela maioria de nós que a resumimos a modos de vestir, comer e relacionar-se com o além. O texto a seguir tem a intenção de expandir o nosso conceito sobre cultura, abrindo nossos os olhos e mentes para observarmos a nossa própria maneira de agir e ver o mundo, nossa cosmovisão, a fim de que estejamos mais dispostos a ver a cultura "alheia" com mais disposição de respeitar as diversidades culturais (Sara Formiga)


Cultura e padrões de comportamentos aprendidos

Falando de um modo geral, o termo “cultura” costuma referir-se ao comportamento dos ricos e da elite. É ouvir Bach, Beethoven e Brahms, ter bom gosto quanto a roupas e saber qual talher que deve ser usado em um banquete.
Mas os antropólogos em seu estudo de toda a humanidade, em todas as partes do mundo e em todos os níveis da sociedade, ampliaram o conceito e libertaram do juízo de valores, tais como bom ou mau. Tem havido muita discussão sobre como definir o termo. Para os nossos propósitos definiremos cultura como o sistema integrado de padrões de comportamento aprendidos, ideais e produtos que caracterizam uma sociedade.
A primeira parte desta definição é “padrões de comportamentos aprendidos”. Começamos aprendendo sobre cultura quando observamos o comportamento das pessoas e procuramos identificar padrões de comportamento. Por exemplo, todos temos visto que em alguns países, dois homens, quando se encontram, agarram a mão um do outro e a sacodem. Em outros países nós veríamos que eles se abraçam. Na Índia cada um deles junta as mãos elevando-as até a testa com um leve inclinar da cabeça – um gesto de saudação que é eficiente, pois permite que uma pessoa saúde muitas outras em um único movimento, e é higiênico pois a pessoa não precisa tocar na outra. Este último aspecto é particularmente importante em uma sociedade onde tocar uma pessoa intocável faz com que uma pessoa de casta elevada fique impura, o que a obriga a tomar um banho de purificação. Entre os sirianos na América do Sul, os homens cospem no peito um do outro quando se cumprimentam.
Provavelmente, a forma mais estranha [para nós] de se cumprimentar foi testemunhada pelo Dr. Jacob Loewen, no Panamá. Ao deixar a floresta em pequeno avião com o chefe nativo local, ele observou que o chefe se aproximou de todos os seus companheiros de tribo e chupou a boca deles. Quando o Dr. Loewen perguntou sobre este costume, o chefe explicou que eles o aprenderam com o homem branco. Eles viram que toda vez que ele viajava, chupava as bocas de sua família como uma magia para garantir uma viagem segura. Se pararmos para pensar nisso por um instante, nós, americanos [ocidentais em geral], temos realmente dois tipos de saudação: apertar as mãos e beijar as bocas, e precisamos ter o cuidado de não usar a forma “errada” com as “pessoas erradas”.
Como a maioria dos padrões de cultura, o beijo não é um costume universal. Ele não existia na maioria das tribos nativas e era considerado vulgar e revoltante para os chineses, que o achavam demasiadamente sugestivo de canibalismo.
Nem todos os padrões de comportamento são adquiridos. Uma criança que encosta no fogão quente puxa a mão e grita “Ai!” Sua reação física é instintiva, mas o grito [ou maneira de gritar] é adquirido culturalmente.

Escrito por Paul G. Hiebert ( 1932-2007)– Antropólogo e missionário cristão na Índia
Em Missões Transculturais – uma perspectiva cultural – Capítulo 39 : A cultura e as diferenças transculturais


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