quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Precisamos falar sobre o estupro e a Valentina



Jade Vilar

O estupro tem muitas nuances. É uma arma de guerra, usada contra milhares de mulheres de países em conflito civil, e é uma postagem no Twitter incentivado a sexualização de uma criança.
Valentina tem 12 anos. Ela participa da atual edição infantil do programa Masterchef, da emissora Band. Valentina é uma criança e se comporta como tal. Ela chora com a pressão das provas de culinária e brinca com os seus colegas de elenco. Esta semana Valentina foi vítima da “cultura do estupro”. 

 Após a exibição do primeiro episódio do programa, uma enxurrada de comentários no Twitter falavam sobre sexo consensual com a menina, outros culpavam a “gurizada gostosa” por causar desejo sexual neles, e outros incentivavam a ação justificando que comentários do tipo já haviam sido direcionados à funkeira mirim Melody e nenhuma punição tinha acontecido até então.
A “cultura do estupro’’ começa quando os meninos são incentivados a ficar com o maior número de garotas possível. Os que não o fazem, viram piada na roda de amigos.
Na sociedade machista, as meninas são ensinadas no ambiente familiar a ser recatadas. A mulher precisa se preservar e não provocar o desejo do homem. Usar roupa curta, ser bela, andar em determinados lugares e sem companhia, são itens proibidos para quem não quer ser estuprada.
Mas, e a Valentina? Ela usava calça jeans e blusa folgadas, estava acompanhada de outras dezenas de crianças e apenas cozinhava, mesmo assim estava “vagabunda demais”, como afirmava um dos twitters
A escritora Susan Brownmiller, escreveu o livro “Against Our Will - Men, Women and Rape”, que apresenta um histórico detalhado sobre o estupro que, para ela é uma relação de poder, um processo de intimidação pelo qual os homens mantêm as mulheres em um estado de medo permanente.
 Recentemente Lady GaGa lançou o clipeTill it happens to you”, que mostra o cenário de vulnerabilidade em que as universitárias vivem nos campus universitários. Segundo a pesquisa norte americana que aparece no final do clipe, uma em cada cinco universitárias vão sofrer abuso sexual este ano, até que algo seja feito. A própria cantora é militante da causa. Ela revelou que foi abusada sexualmente quando tinha 19 anos.

O estupro não tem raça, hora e nem lugar, ele acontece o tempo todo,  em todas as partes do mundo. Enquanto houver a cultura da objetificação da mulher e o incentivo à afirmação da masculinidade através da sexualidade sem escrúpulos e consequências, ainda vai acontecer muitas vezes. É preciso que haja punição, mas antes de tudo é preciso que haja prevenção. Precisamos falar sobre o estupro. 

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