Jade Vilar
O
estupro tem muitas nuances. É uma arma de guerra, usada contra milhares de
mulheres de países em conflito civil, e é uma postagem no Twitter incentivado a sexualização de uma criança.
Valentina
tem 12 anos. Ela participa da atual edição infantil do programa Masterchef, da
emissora Band. Valentina é uma criança e se comporta como tal. Ela chora com a
pressão das provas de culinária e brinca com os seus colegas de elenco. Esta
semana Valentina foi vítima da “cultura do estupro”.
Após a exibição do primeiro episódio do
programa, uma enxurrada de comentários no Twitter
falavam sobre sexo consensual com a menina, outros culpavam a “gurizada
gostosa” por causar desejo sexual neles, e outros incentivavam a ação
justificando que comentários do tipo já haviam sido direcionados à funkeira
mirim Melody e nenhuma punição tinha acontecido até então.
A
“cultura do estupro’’ começa quando os meninos são incentivados a ficar com o maior
número de garotas possível. Os que não o fazem, viram piada na roda de amigos.
Na
sociedade machista, as meninas são ensinadas no ambiente familiar a ser
recatadas. A mulher precisa se preservar e não provocar o desejo do homem. Usar
roupa curta, ser bela, andar em determinados lugares e sem companhia, são itens
proibidos para quem não quer ser estuprada.
Mas,
e a Valentina? Ela usava calça jeans e blusa folgadas, estava acompanhada de
outras dezenas de crianças e apenas cozinhava, mesmo assim estava “vagabunda
demais”, como afirmava um dos twitters.
A
escritora Susan Brownmiller, escreveu
o livro “Against Our Will - Men, Women
and Rape”, que apresenta um histórico detalhado sobre o estupro que, para
ela é uma relação de poder, um processo de intimidação pelo qual os homens
mantêm as mulheres em um estado de medo permanente.
Recentemente Lady GaGa lançou o clipe “Till it
happens to you”, que mostra o cenário de vulnerabilidade em que as
universitárias vivem nos campus universitários. Segundo a pesquisa norte
americana que aparece no final do clipe, uma em cada cinco universitárias vão sofrer abuso sexual este ano, até
que algo seja feito. A própria cantora é militante da causa. Ela revelou que
foi abusada sexualmente quando tinha 19 anos.
O estupro não tem
raça, hora e nem lugar, ele acontece o tempo todo, em todas as partes do mundo. Enquanto houver a
cultura da objetificação da mulher e o incentivo à afirmação da masculinidade através
da sexualidade sem escrúpulos e consequências, ainda vai acontecer muitas
vezes. É preciso que haja punição, mas antes de tudo é preciso que haja
prevenção. Precisamos falar sobre o estupro.
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