quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Marambiré: festa da resistência

Descrição para cegos: cena do documentário mostra dezenas de quilombolas com trajes tradicionais em procissão pela rua de terra batida na comunidade de Pacoval. À esquerda, moradores assistem à procissão passar.
Por Nayla Georgia

Sons idílicos da natureza descortinam o início de Marambiré, como que a convidar o espectador a imergir no cenário bucólico que se segue: um pescador, solitário em seu barco, exercendo o ofício de seus pais e avós. Essa cena, tão simbólica quanto taciturna, no entanto, é abruptamente cortada por um coro animado de vozes, acompanhado de uma percussão energética em procissão - um recorte vivo de uma comunidade quilombola cujo histórico de resistência significa celebrar a vida a despeito das adversidades.
Marambiré é uma dança religiosa de matriz africana, gestada por séculos de sincretismo religioso. O documentário dirigido por André dos Santos se estrutura em torno de entrevistas. Ora com figuras-chave do movimento - que didaticamente explicam o passo-a-passo da realização da festa do marambiré -; ora com acadêmicos que ajudam a esclarecer fatos controvertidos, a exemplo do significado etimológico de "marambiré".

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Documentário sobre quilombolas valoriza herança cultural africana no Pará

Descrição para cegos: pôster do documentário. Mostra cortejo de quilombolas atravessando rua de barro batido, vestidos com trajes coloridos, imitando realeza. Muitos deles usam coroas. Alguns portam instrumentos de percussão. Na parte superior da imagem, onde se vê o céu, o nome Marambiré está escrito em vários tipos de letra.
Intitulado Marambiré, o trabalho de André dos Santos registra manifestações culturais quilombolas na comunidade paraense de Pacoval. Entre os temas abordados estão a música, o teatro e a dança do quilombo. Além disso, traz depoimentos de mestres populares e da comunidade sobre as raízes que resistem às mudanças sociais e culturais. Marambiré teve sua estreia na própria Pacoval e está concorrendo a vagas em vários festivais internacionais de cinema. No Brasil ainda não tem planos concretos para exibições, mas a equipe aguarda convites. Ouça a entrevista com André dos Santos realizada por mim para o programa Espaço Experimental, que vai ao ar todos os sábados, às 9 horas, na Rádio Tabajara AM (1.110 KHz), produzido pela Oficina de Radiojornalismo do curso de Jornalismo da UFPB. (Nayla Georgia)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O Munduruku e as sete quedas

Descrição para cegos: fotografia de uma queda d’água. A água escorre por grandes rochas no centro da foto. Nos cantos superiores vemos folhas de árvores. (Foto Nayla Georgia).
Por Nayla Georgia

        Eles só entraram. Ninguém chamou, nem sequer deixou. Mas eles entraram. Caí. Represaram a água que corria para o Karabixexe e destruíram nossa redenção. Não bastou grito, choro ou confusão. Caí. Levaram nossos bisavós e as memórias que eles deixaram. Caí. Mataram a mãe e caí de novo. Mas e quem ficou para botar ordem na nossa casa? Aliás, Dekuka’a já nem existia mais. E novamente, caí.
        Lembro-me do paraíso como se fosse ontem. Era como mulher: transbordava de beleza e força. E lá a gente ia sempre quando precisava tomar aquele sopro de coragem. Respirava, se banhava e a mãe aconselhava. Como é que vai ser agora?
O pajé disse que os antepassados queriam saber por que não tinham mais morada. Dava pra ver no olho dele uma tristeza tão grande que só poderia ser curada em Karabixexe. Será que tem cura agora? No olho dele, eu caí.