quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sobre religiões


Eugenio Rosa de Araújo foi um nome conhecido nas últimas semanas. A manchete que citava o Juiz Federal, titular da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, cargo em que ocupa, deu-se pela tentativa do Ministério Público Federal de retirar do YouTube uma série de vídeos com ofensas à umbanda e ao candomblé a pedidos de algumas representações dos movimentos das religiões afro. Porém, Eugenio decretou, no dia 28 de abril, que a solicitação do Ministério Público era improcedente porque as religiões afro (incluindo o Candomblé, que é africano, e a Umbanda, que é um sincretismo de várias crenças como o Catolicismo) não são religiões. O motivo se deu porque, segundo Eugenio, o Candomblé e a Umbanda não têm características essenciais a uma religião: a existência de um texto-base como a Bíblia ou Corão; estrutura hierárquica e um deus a ser venerado.

Não sei de onde ele tirou esse conceito, mas no Dicionário do Aurélio diz o seguinte:
Religião
s.f. Culto rendido à divindade. / Fé; convicções religiosas, crença: a religião transforma o indivíduo. / Doutrina religiosa: religião cristã. / Tendência para crer em um ente supremo. / Acatamento às coisas santas. / Fig. Coisa a que se vota respeito: o trabalho era para ele uma religião.

Na própria Wikipédia, religião é:
Um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo.

Algumas religiões sequer possuem textos-base e até o Judaísmo foi tradição oral por séculos. Estrutura hierárquica também não é requisito para conceituar uma religião – ou qual estrutura o Espiritismo possui? Bem como um deus a ser venerado não é necessário ou, do contrário, o Budismo, a quarta maior religião do mundo, também não seria considerada religião. E, de qualquer forma, as religiões de origem africana possuem entidades espirituais que são consideradas divindades. Ou seja, o conceito de religião é muito mais amplo que se possa imaginar.

O fato é que o juiz, dia 20 deste mês, voltou atrás após intensa pressão popular e agora entende que Candomblé e Umbanda são religiões. Num país em que predominam as religiões Católica e Evangélica, não é raro ver tais declarações preconceituosas e traz à tona a falta de competência de pessoas que ocupam cargos tão importantes e que, assim, comprometem a ética à diversidade cultural e, por conseguinte, os direitos humanos. (Rafael Andrade)

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