Museu dos 3 Pandeiros, em Campina Grande, Paraíba |
Em época de Copa do Mundo, tudo vira notícia. Os jogadores convocados, as cidades sedes, pessoas que serão beneficiadas ou não com o evento, etc e tal. Afinal, o papel de todo e qualquer jornalista é levar informação a todos seja qual for o canal de veiculação. Contudo, para informar e, principalmente, para ser formador de opinião, o jornalista tem que ter em mãos a sua maior matéria-prima: a informação. Cabe a ele levantá-la e apurá-la de forma correta.
Porém, uma matéria produzida pelo jornalista e
colunista Eugenio Goussinsky, e veiculada no portal R7, que retrata o jogador
paraibano Hulk como “espelho” de um povo esquecido, os paraibanos, pôs abaixo
uma das práticas jornalísticas que é a apuração. A matéria, apesar de querer
ter um tom de defesa aos paraibanos, é totalmente infeliz em suas comparações.
Mostra, no mínimo, a falta de conhecimento do colunista sobre a Paraíba e os
seus filhos, isso sem contar a arrogância e o preconceito em suas comparações.
Começando do termo “Mulher Macho”, que, segundo o
jornalista, faz alusão às esposas dos cangaceiros, quando na verdade tem a ver
com a revolução de 30. Se ele soubesse um pouco sobre a história politica,
social e cultural do Brasil, certamente saberia o verdadeiro significado do
termo e o uso que o saudoso Luiz Gonzaga fez ao homenagear o nosso estado. Já a
comparação exacerbada da nossa terra e do nosso povo com o cangaço, época
datada de anos atrás, muito antes do século atual, é no mínimo a falta de
conhecimento da realidade brasileira. Mas talvez seja difícil saber de tais
informações neste momento da história que vivemos, conhecido como a tal “Era da
Informação”.
Temos o privilégio de ser o primeiro estado a ser
banhado pelos raios de sol todos os dias. Nossa rainha da Borborema, Campina
Grande, é polo tecnológico reconhecido mundialmente. Temos Mazinho, campeão da
Copa do Mundo de 94, nos Estados Unidos. Outro paraibano, Junior, integrou como
titular a inesquecível seleção escalada por Telê Santana para a Copa de 1982,
aquela que fez brotar na imprensa de todo o mundo a expressão “Futebol Arte”. Um
dos pais do jornalismo brasileiro é paraibano, o ilustre e talvez desconhecido
ao nobre colunista, o jornalista Assis Chateaubriand. O próprio jogador Hulk
configura entre as dez transações mais caras do futebol mundial. Enfim,
existiam inúmeros modos de retratar o povo paraibano. Infelizmente ele, por
falta de informação, fez as comparações no mínimo inconvenientes. E talvez,
assim como o jornalista mesmo disse, a canhota de Hulk decida os jogos da copa,
mostre que a Paraíba é sim um povo aguerrido, mas sem o reflexo do cangaço.
Opinião:
Hulk mostrou para brasileiros o mapa da Paraíba
Jogador traz a mensagem positiva do cangaço e tem
tudo para definir jogos na Copa
Eugenio Goussinsky, do R7
Pouco se fala da Paraíba no cenário nacional.
Estado incrustrado no Nordeste brasileiro, apesar de algum crescimento,
continua abandonado, esquecido pelos brasileiros. O que vem à mente quando há
qualquer menção de lá é a mulher masculinizada, o tipo “Paraíba mulher macho”,
estilo das esposas de cangaceiros dos anos 30, que, por sinal, nem fizeram da
Paraíba o palco de seus balaços.
Estes revoltosos, liderados por Lampião, tinham
nos olhos o sangue da vingança. Reagiam de forma enlouquecida contra a
sociedade patriarcal da época, matando por encomenda, traçando destinos de
acordo com seus julgamentos. Hoje, não seria estranho se eles estivessem também
se revoltando contra a Copa, tentando fazer barricadas em estádios pelos
sertões.
Mas há um tipo de cangaço que exala forças
positivas, tendo a coragem de deixar a tirania de lado, e superando a exclusão
com o talento e a determinação. Paraíba, no Brasil, muitas vezes virou sinônimo
de “baiano”. Principalmente em regiões fora do Nordeste.
Para muitos é como um estado africano, de tão
distante. De lá se sabe que governador foi cassado; que o pai dele, outro
governador, atirou no antecessor; que o campeonato está parado por supostas irregularidades
nas eleições; que há pobreza, que a violência aumentou.
Não leva em conta, no entanto, o que se passa na
cabeça e no coração deste povo, reduzido a rótulos preconceituosos e sem
sentido. Justo em um país que, por alguns dias apenas, se engaja em campanhas
publicitárias contra o racismo e depois contribui para a exclusão, como se
fosse feito de autômatos que apenas foram na onda.
Mal se sabe que na Paraíba nasceram Herbert
Vianna, Assis Chateaubriand, Ariano Suassuna, Elba Ramalho, José Lins do Rego e
tantos outros nomes da cultura nacional. A impressão é de que eles foram
adotados por outros estados. O próprio Nordeste parece discriminar a Paraíba.
Eis que então surge Hulk, o “monstro” paraibano,
como um herói transfigurando raiva de tanta exclusão e, em um rompante de fúria
e esperança deixa a Paraíba e o país para ser aceito. Sorte dele que, no
exterior, brasileiro é tudo a mesma coisa. Para um americano, paulista e
nordestino dão no mesmo.
Hulk tem a alma do retirante que deu a volta por
cima. Carrega a mensagem santificada do cangaço, só que de outra maneira. Com
os pés. Seu corpo rasgou os trajes protetores de couro. Ele jogou fora os
chapéus, tirou as sandálias, os casacos, os cintos, qualquer munição, livrou-se
das calças remendadas para colocar calções.
Até na seleção ainda é pouco reconhecido. Afinal,
em que estado nasceu o craque? Mas chegou à seleção. Acendeu outra luz no
desconhecido mapa da Paraíba. E, quando sua canhota portentosa, tão certeira
quanto o tiro do cangaceiro, definir jogos na Copa do Mundo, porque ele tem
alma de definidor, finalmente a massa vai se render. Então todos os brasileiros
terão orgulho em dizer, sem precisar do estímulo de campanhas publicitárias:
“Somos todos paraíbas”.
Reproduzido
da página do portal R7: http://esportes.r7.com/futebol/copa-do-mundo-2014/opiniao-hulk-mostrou-para-brasileiros-o-mapa-da-paraiba-19052014
Wanderson Fernandes.
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