domingo, 25 de maio de 2014

Uma Paraíba ainda cangaceira aos olhos do “ resto do mundo”

Museu dos 3 Pandeiros, em Campina Grande, Paraíba

Em época de Copa do Mundo, tudo vira notícia. Os jogadores convocados, as cidades sedes, pessoas que serão beneficiadas ou não com o evento, etc e tal. Afinal, o papel de todo e qualquer jornalista é levar informação a todos seja qual for o canal de veiculação. Contudo, para informar e, principalmente, para ser formador de opinião, o jornalista tem que ter em mãos a sua maior matéria-prima: a informação. Cabe a ele levantá-la e apurá-la de forma correta.

Porém, uma matéria produzida pelo jornalista e colunista Eugenio Goussinsky, e veiculada no portal R7, que retrata o jogador paraibano Hulk como “espelho” de um povo esquecido, os paraibanos, pôs abaixo uma das práticas jornalísticas que é a apuração. A matéria, apesar de querer ter um tom de defesa aos paraibanos, é totalmente infeliz em suas comparações. Mostra, no mínimo, a falta de conhecimento do colunista sobre a Paraíba e os seus filhos, isso sem contar a arrogância e o preconceito em suas comparações.

Começando do termo “Mulher Macho”, que, segundo o jornalista, faz alusão às esposas dos cangaceiros, quando na verdade tem a ver com a revolução de 30. Se ele soubesse um pouco sobre a história politica, social e cultural do Brasil, certamente saberia o verdadeiro significado do termo e o uso que o saudoso Luiz Gonzaga fez ao homenagear o nosso estado. Já a comparação exacerbada da nossa terra e do nosso povo com o cangaço, época datada de anos atrás, muito antes do século atual, é no mínimo a falta de conhecimento da realidade brasileira. Mas talvez seja difícil saber de tais informações neste momento da história que vivemos, conhecido como a tal “Era da Informação”.

Temos o privilégio de ser o primeiro estado a ser banhado pelos raios de sol todos os dias. Nossa rainha da Borborema, Campina Grande, é polo tecnológico reconhecido mundialmente. Temos Mazinho, campeão da Copa do Mundo de 94, nos Estados Unidos. Outro paraibano, Junior, integrou como titular a inesquecível seleção escalada por Telê Santana para a Copa de 1982, aquela que fez brotar na imprensa de todo o mundo a expressão “Futebol Arte”. Um dos pais do jornalismo brasileiro é paraibano, o ilustre e talvez desconhecido ao nobre colunista, o jornalista Assis Chateaubriand. O próprio jogador Hulk configura entre as dez transações mais caras do futebol mundial. Enfim, existiam inúmeros modos de retratar o povo paraibano. Infelizmente ele, por falta de informação, fez as comparações no mínimo inconvenientes. E talvez, assim como o jornalista mesmo disse, a canhota de Hulk decida os jogos da copa, mostre que a Paraíba é sim um povo aguerrido, mas sem o reflexo do cangaço.


Opinião: Hulk mostrou para brasileiros o mapa da Paraíba
Jogador traz a mensagem positiva do cangaço e tem tudo para definir jogos na Copa

Eugenio Goussinsky, do R7

Pouco se fala da Paraíba no cenário nacional. Estado incrustrado no Nordeste brasileiro, apesar de algum crescimento, continua abandonado, esquecido pelos brasileiros. O que vem à mente quando há qualquer menção de lá é a mulher masculinizada, o tipo “Paraíba mulher macho”, estilo das esposas de cangaceiros dos anos 30, que, por sinal, nem fizeram da Paraíba o palco de seus balaços.

Estes revoltosos, liderados por Lampião, tinham nos olhos o sangue da vingança. Reagiam de forma enlouquecida contra a sociedade patriarcal da época, matando por encomenda, traçando destinos de acordo com seus julgamentos. Hoje, não seria estranho se eles estivessem também se revoltando contra a Copa, tentando fazer barricadas em estádios pelos sertões.

Mas há um tipo de cangaço que exala forças positivas, tendo a coragem de deixar a tirania de lado, e superando a exclusão com o talento e a determinação. Paraíba, no Brasil, muitas vezes virou sinônimo de “baiano”. Principalmente em regiões fora do Nordeste.

Para muitos é como um estado africano, de tão distante. De lá se sabe que governador foi cassado; que o pai dele, outro governador, atirou no antecessor; que o campeonato está parado por supostas irregularidades nas eleições; que há pobreza, que a violência aumentou.

Não leva em conta, no entanto, o que se passa na cabeça e no coração deste povo, reduzido a rótulos preconceituosos e sem sentido. Justo em um país que, por alguns dias apenas, se engaja em campanhas publicitárias contra o racismo e depois contribui para a exclusão, como se fosse feito de autômatos que apenas foram na onda.  

Mal se sabe que na Paraíba nasceram Herbert Vianna, Assis Chateaubriand, Ariano Suassuna, Elba Ramalho, José Lins do Rego e tantos outros nomes da cultura nacional. A impressão é de que eles foram adotados por outros estados. O próprio Nordeste parece discriminar a Paraíba.

Eis que então surge Hulk, o “monstro” paraibano, como um herói transfigurando raiva de tanta exclusão e, em um rompante de fúria e esperança deixa a Paraíba e o país para ser aceito. Sorte dele que, no exterior, brasileiro é tudo a mesma coisa. Para um americano, paulista e nordestino dão no mesmo.

Hulk tem a alma do retirante que deu a volta por cima. Carrega a mensagem santificada do cangaço, só que de outra maneira. Com os pés. Seu corpo rasgou os trajes protetores de couro. Ele jogou fora os chapéus, tirou as sandálias, os casacos, os cintos, qualquer munição, livrou-se das calças remendadas para colocar calções.

Até na seleção ainda é pouco reconhecido. Afinal, em que estado nasceu o craque? Mas chegou à seleção. Acendeu outra luz no desconhecido mapa da Paraíba. E, quando sua canhota portentosa, tão certeira quanto o tiro do cangaceiro, definir jogos na Copa do Mundo, porque ele tem alma de definidor, finalmente a massa vai se render. Então todos os brasileiros terão orgulho em dizer, sem precisar do estímulo de campanhas publicitárias: “Somos todos paraíbas”.


Reproduzido da página do portal R7: http://esportes.r7.com/futebol/copa-do-mundo-2014/opiniao-hulk-mostrou-para-brasileiros-o-mapa-da-paraiba-19052014

Wanderson Fernandes.

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