(Foto: Reprodução Youtube)
Em junho, índios que
viviam até então isolados no estado do Acre, na região de fronteira entre
Brasil e Peru, estabeleceram, pela primeira vez, contato com índios ashaninkas,
que já mantém relações amistosas com membros da Funai. O contato ocorreu como
um pedido de socorro porque eles estão sendo perseguidos e massacrados por
narcotraficantes e madeireiros peruanos. O encontro foi registrado pela Funai.
Segue abaixo um relato da
professora da UFRJ e jornalista Ivana Bentes, publicado no site Mídia Ninja. No texto, Ivana conta suas impressões sobre
o vídeo divulgado pela Funai, durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso e Ciências, que aconteceu de 22 à 27 de Julho; no Acre . (Bárbara Santos)
Documento de cultura, documento de barbárie é a
primeira coisa que vem à cabeça vendo os relatos dos indigenistas e agentes que
participaram dos contatos com os índios isolados do Acre. A própria forma de
percebê-los ganha materialidade nos confrontos com o Estado: avistamentos,
vestígios, confrontos armados, mortes dos “isolados”, mortes dos moradores
brancos, conflitos com narcotraficantes, etc. O que acontece depois do contato?
Muitos vão morrer pela simples proximidade e contágio com as gripes e doenças
corriqueiras dos brancos. Como se preparar para o encontro, que estratégias,
qual o melhor momento?
É sintomático que os contatos se intensifiquem
quando as terras indígenas são comprimidas, pelo desmatamento, pressão de
madeireiros, mineradoras, prospecção de petróleo, tráfico de drogas,
missionários. Os índios isolados “fazem contato” numa situação crítica, como
disse o antropólogo Terri de Aquino.
Índios ”isolados” de quem? Não somos isolados,
bravos, invisíveis, cercados, somos resistentes. Vocês não acham a gente, índio
já está ali desde sempre, é como o jabuti na floresta, ninguém acha o jabuti,
só encontra quando ele está passando disse indígena Jaminawá José Correia na
sessão emocionante de apresentação das imagens inéditas do contato com os
“índios isolados” mostradas pela Funai na durante 66ª Reunião Anual da SBPC, no
Acre. Ele acompanhou os primeiros contatos da Funai na Aldeia Simpatia da Terra
Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, na região do Acre, de fronteira
do Brasil com o Peru.
O depoimento continua dizendo: “os Índios não são
“isolados” são livres e circulam porque não sabem dessas fronteiras que os
brancos inventaram, não tem indígena do Peru, do Brasil, da Bolívia, nós somos
o mesmo povo. Não queremos ser mandados, queremos ser parceiros da Funai para
ajudar os parentes isolados.”
No vídeo apresentando vemos as imagens de garotos
indígenas muito jovens no primeiro encontro, tenso e com um misto de celebração
e desespero dos agentes do encontro: “papa não, não pode! No, no, no! Panela,
não! Não, tem doença! “quando pegam uma muda de roupa”. A aproximação pelo
oferecimento de comida. O interesse dos indígenas pelos terçados, machados e
também gestos de impaciência com as reprimendas e ansiedade dos brancos!
O Estado brasileiro (ou qualquer estado) está
preparado? A missão foi exitosa, diz Carlos Travasso, mas as condições
precárias da Funai, a burocracia, a dificuldade em trabalhar em cooperação
entre Brasil, Peru, Bolívia, os desafios da Pan Amazônia se impõem. Numa
infinita remediação de um campo e uma situação que precisa de atenção mais do
que urgente e que sofre retrocessos constantes. “Só queremos viver” disse um
dos indígenas.
Foi uma sessão emocionante com antropólogos,
estudantes, agentes da Funai, e indígenas na SBPC em Rio Branco-Acre. Ouvimos
os relatos do antropólogo Terri Aquino, do indígena Jaminawá José Correia, do
antropólogo de Porto Maldonado, no Peru, Alfredo Gárcia Altamirano, de Carlos
Travasso, da Coordenação-geral de Índios Isolados da Funai e de outros
indígenas da região.
Ivana Bentes
Fonte: Mídia Ninja
Vídeo ao qual Ivana Bentes se refere:
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