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Temos
o costume de tentar definir e delimitar um sentido para tudo, porém esquecemos
que nem tudo pode ser descrito e, muitas vezes, é mais importante sentir do que
tentar entender. A diversidade humana é algo a ser mais sentida do que
entendida, segundo Muniz Sodré, no texto abaixo. (Nathalia Correia)
Educação para o diverso
Muniz Sodré*
A diversidade que emerge na globalização
contemporânea traz elementos novos para o pensamento. O espírito conservador
pode não pensar desta maneira, por considerar que, na medida em que desaparece
do horizonte social a ideologia da emancipação e em que o futuro perde o seu
contorno utópico, o passado entraria em cena a serviço de uma diversidade
cultural de coloração étnica, introduzida pelo discurso multiculturalista. Para
o senso comum de língua inglesa, o diverso é apenas “ethnic”.
Isso é, na verdade, uma simplificação de fundo
iluminista. O diverso não emerge historicamente sob o beneplácito paternalista
do multiculturalismo, e sim em virtude da movimentação de grupos sociais que
trafegam política e educacionalmente no espaço dos direitos civis e humanos.
Sob as aparências carcomidas da política
tradicional, existe uma dinâmica social em busca de formas novas de expressão,
em que avulta no primeiro plano o jogo existencial da diversidade. O que isso
traz de novo para o pensamento e para a educação? Para começar, o interesse de
agir a partir da dimensão espacial, que tem a ver com a aproximação dos seres e
com o sentir. A diversidade humana é algo a ser mais sentido do que entendido.
Os homens, seres singulares, coexistem
espacialmente em sua diversidade. Cada uma dessas singularidades corresponde,
às vezes, à dinâmica histórica de
um Outro, um
coletivo diverso. Na prática, aquilo que nós experimentamos de uma cultura,
principalmente da nossa, é a diversidade de seus repertórios, onde se mostram
hábitos, enunciados e simbolizações. Apesar das transformações na organização
do mundo e nas formas de poder, as populações sul-americanas mantêm a
especificidade de suas formas de simbolizar e representar o real, levantando
questões importantes para a coexistência das diferenças humanas.
O olhar hegemônico do clássico “narrador de
histórias únicas” é confrontado o tempo inteiro com a pluralidade de formas
pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua
expressão. Uma iniciativa que vise, por exemplo, a ampliar o conhecimento e a
compreensão da história da população negra brasileira e da África tem efeitos
de contra hegemonia cultural
e educacional.
Pôr compreensão ao lado do conhecimento é fazer do
sentimento a lupa assestada sobre a diversidade: para além do mero registro
intelectual das diferenças. Educar também pela dimensão do sensível é produzir
a consciência que leva à aceitação e à aproximação com o Outro. Como
bem assinala o romancista Caio Fernando Abreu, “é fácil não dizer; difícil é não sentir”. A
educação para a diversidade implica,
na verdade, tornar-se “plural” em si mesmo, ao modo sugestivo
de Fernando Pessoa: “Sejamos
plurais como o universo!”.
*Muniz
Sodré é jornalista, sociólogo e professor de Comunicação
na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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