Cartilha do ACNUR ensina português a refugiados sob a perspectiva dos direitos humanos
Miguel Pachioni
"Mudar à força de um país para outro é delicado. É como morar toda vida na Zona Sul de São Paulo e depois se mudar para a Zona Leste da cidade. Você perde suas referências, não se acostuma com o novo lugar. Agora imagina ter que viajar para um país completamente diferente do seu, com outra língua e outra cultura”.
Com o crescente fluxo de solicitantes de refúgio com destino ao Brasil - de acordo com o CONARE, há aproximadamente 8.530 estrangeiros reconhecidos como refugiados e cerca de 13 mil solicitações que aguardam um parecer -, um dos principais desafios para a integração é o devido aprendizado da língua portuguesa.
Para ajudar a enfrentar essas dificuldades, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançou na última sexta-feira (27/11) a apostila "Pode Entrar: Português do Brasil para Refugiadas e Refugiados".
Elaborada pelo Cursinho Popular Mafalda, com o apoio da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, este material já está disponível para ser baixada gratuitamente no endereço www.acnur.org/t3/portugues/recursos/publicacoes/
O lançamento da apostila se integra à agenda do ACNUR para os "16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra Mulheres", pois tem como diferencial a abordagem transversal de direitos humanos ao longo de seus 12 capítulos, como afirma uma das realizadoras da apostila, a coordenadora do Cursinho Popular Mafalda, Talita Amaro.
"O material foi produzido essencialmente por mulheres e exigiu um amplo trabalho de pesquisa para irmos além de uma mera apostila, tornando-a uma ferramenta de empoderamento. Ela foi feita por profissionais de várias formações que conseguiram adaptar o conteúdo didático às diferentes realidades das refugiadas e refugiados".
Além de propiciar o ensino da língua portuguesa dentro das dimensões de direitos humanos, em cada capítulo a apostila traz informações sobre preenchimento de formulários, emissão de documentos e contatos para denúncias de violência contra as mulheres, por exemplo, além de contar com um glossário com tradução para quatro idiomas (inglês, francês, árabe e espanhol).
De acordo com o diretor da Cáritas São Paulo, padre Marcelo Monge, "a equipe que produziu a apostila foi sensível às dificuldades que os refugiados enfrentam, às necessidades que devem saber. Palavra por palavra, página após página, tudo foi pensado. É mais que uma apostila de língua portuguesa, porque traz o conceito de direitos humanos, que permeia todo o conteúdo. Dessa forma, aborda a cidadania pela perspectiva da integração", disse.
O evento de lançamento contou com a presença de alunas e alunos solicitantes de refúgio e refugiados, representantes das instituições que oferecem o curso gratuitamente na cidade de São Paulo e de especialistas em direitos humanos que, juntos, ressaltaram a importância de ter acessível e de forma gratuita o material produzido.
O ACNUR acredita que, com este material produzido e disponível para download, outras parcerias com diferentes instituições possam ser estabelecidas, possibilitando assim que um número cada vez maior de refugiadas e refugiados possa ser contemplado pela publicação.
Dessa maneira, o ACNUR reafirma seu compromisso com os “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra Mulheres”, campanha idealizada pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (Center for Women's Global Leadership - CWGL) com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo.
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