segunda-feira, 31 de outubro de 2016

'Sulicídio' e centralização do Rap

Descrição para cegos: capa do disco "Sulicídio", que traz, sobre
um fundo branco, uma mancha de sangue representando parte do
mapa do Brasil, a que abrange as regiões Leste e Sul (de Minas
Gerais ao Rio Grande do Sul). Sobre a ilustração aparecem os
nomes do disco e dos artistas.

Por Rennan Ono


Em setembro não se falou de outra coisa dentro do universo do Rap brasileiro. Líderes dos grupos nordestinos DDH e Chave Mestra, Baco (Exu do Blues) e Diomedes Chinaski, respectivamente, lançaram, como um feito histórico no Rap nativo, a música Sulicídio.
Com uma letra agressiva e polêmica, Sulicídio não poupa críticas à centralização do movimento no eixo Rio/São Paulo. A dupla critica a supervalorização da produção de Rap daquela região e o esquecimento do Rap nordestino, que vive à margem do cenário nacional.
O som em questão chamou muita atenção, e não somente dos amantes do Rap. Baco e Diomedes sofreram ataques de racismo e xenofobia, sendo o último sustentado pelo estereótipo da falta d’água no sertão e por comentários a respeito do sotaque da dupla.

Em entrevista concedida ao portal RND, os rappers comentaram a dificuldade de alguns de aceitar o sotaque nordestino e vocabulário popular, bem diferente do usado na região Sudeste.
- O Nordeste é evitado acho que por vários motivos… Ainda vejo preconceito com o sotaque do nordestino, com a forma diferente que a gente se porta, com as próprias gírias e o firmamento cultural. A juventude nordestina cada vez mais tem virado um espelho do Sul e Sudeste. Vejo os jovens perdendo a identidade do nordestino, copiam as gírias, o jeito de rimar, as roupas e etc. Vejo isso como forma desesperada de ser aceito pelo resto do país, mas ainda temos a resistência, os malucos que amam sua cultura, que protegem sua terra e esses tão se tornando cada vez mais raros – declarou Baco, o Exu do Blues.
Talvez seja por isso que músicas como Sulicído sejam tão importantes. A cultura brasileira ainda é centralizada nas regiões Sul e Sudeste e os preconceitos ainda existem e estão escancarados. A luta não pode parar por aí.


Confira abaixo Sulicído, que tem a produção de Mazili e Sly:



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