Descrição para
cegos: pôster de divulgação do filme mostra um índio Ãwa caminhando em campo
aberto carregando em seus ombros arco e flechas.
Por
Geovanna Adya
Intercalando registros
audiovisuais passados e atuais com primazia, o documentário dos irmãos Henrique e Marcela Borela reafirma a identidade do povo
indígena Avá-Canoeiro do Araguaia, os Ãwa.
O projeto levou anos para ser
concluído. Foi idealizado há cerca de 14 anos quando cinco fitas VHS com imagens
dos índios foram encontradas na Universidade Federal de Goiás (UFG) e,
posteriormente, levadas aos remanescentes da tribo na Ilha do Bananal, em
Tocantins.
A apresentação desse material aos
Ãwa gerou o conteúdo da obra que buscou dar visibilidade à história de vida e
resistência desse povo. A partir desse encontro, o patriarca Tutawa – que
morreu em 2015 - revive momentos, rituais
e tradições ao contar suas memórias à
Kaukama – sua filha com Taego, índia que deu nome ao filme – seus netos e
bisnetos, o atual povo Ãwa.
A
dinâmica de exploração desses arquivos e da memória do líder Tutawa acontece de
forma natural. Utilizando-se do contato familiar e das conversas entre os
remanescentes da tribo, os irmãos Borela conseguiram resgatar detalhes da
violência do primeiro contato com o homem branco, provocado pela Fundação
Nacional do Índio (Funai), em 1973, e da expulsão de suas terras, inclusive, a
condução dos Ãwa para o território dos Javaé, seus antigos inimigos, subjugando-os
à condição de “índios negros”, considerados como derrotados.
O
documentário relaciona o passado dos Ãwa e as consequências enfrentadas até
hoje por seu povo. Se torna perceptível que o “porquê” da dizimação da maior
parte dos Ãwa ainda é um questionamento insolúvel para os mais velhos como
Kaukuma, que relata a morte de seus pares na floresta e a inquietação pela
perseguição do homem branco.
Desde
esse primeiro contato, os Ãwa precisaram buscar formas de resistência para
continuar existindo, caracterizando um estado de guerra constante e
deslocamentos forçados, que os reduziu a cerca de uma dezena de pessoas.
Taego Ãwa cumpre seu papel de denunciar o massacre dos
Ãwa no crescente número de produções nacionais que registram a memória indígena
brasileira, consolidando uma janela para a notoriedade desses povos e uma
ferramenta de apoio às lutas pela demarcação de terras indígenas.
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