terça-feira, 6 de junho de 2017

Taego Ãwa registra resistência e memória indígena

Descrição para cegos: pôster de divulgação do filme mostra um índio Ãwa caminhando em campo aberto carregando em seus ombros arco e flechas.

Por Geovanna Adya


Intercalando registros audiovisuais passados e atuais com primazia, o documentário dos irmãos Henrique e Marcela Borela reafirma a identidade do povo indígena Avá-Canoeiro do Araguaia, os Ãwa.
O projeto levou anos para ser concluído. Foi idealizado há cerca de 14 anos quando cinco fitas VHS com imagens dos índios foram encontradas na Universidade Federal de Goiás (UFG) e, posteriormente, levadas aos remanescentes da tribo na Ilha do Bananal, em Tocantins.
A apresentação desse material aos Ãwa gerou o conteúdo da obra que buscou dar visibilidade à história de vida e resistência desse povo. A partir desse encontro, o patriarca Tutawa – que morreu em 2015 - revive momentos, rituais
e tradições ao contar suas memórias à Kaukama – sua filha com Taego, índia que deu nome ao filme – seus netos e bisnetos, o atual povo Ãwa.
A dinâmica de exploração desses arquivos e da memória do líder Tutawa acontece de forma natural. Utilizando-se do contato familiar e das conversas entre os remanescentes da tribo, os irmãos Borela conseguiram resgatar detalhes da violência do primeiro contato com o homem branco, provocado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1973, e da expulsão de suas terras, inclusive, a condução dos Ãwa para o território dos Javaé, seus antigos inimigos, subjugando-os à condição de “índios negros”, considerados como derrotados.
O documentário relaciona o passado dos Ãwa e as consequências enfrentadas até hoje por seu povo. Se torna perceptível que o “porquê” da dizimação da maior parte dos Ãwa ainda é um questionamento insolúvel para os mais velhos como Kaukuma, que relata a morte de seus pares na floresta e a inquietação pela perseguição do homem branco.
Desde esse primeiro contato, os Ãwa precisaram buscar formas de resistência para continuar existindo, caracterizando um estado de guerra constante e deslocamentos forçados, que os reduziu a cerca de uma dezena de pessoas.
Taego Ãwa cumpre seu papel de denunciar o massacre dos Ãwa no crescente número de produções nacionais que registram a memória indígena brasileira, consolidando uma janela para a notoriedade desses povos e uma ferramenta de apoio às lutas pela demarcação de terras indígenas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve.