Descrição
para cegos: Malala Yousafzai posa com a medalha e o diploma do Prêmio Nobel da
Paz Foto: G1
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Por Samuel de Brito
Eu
pensei um dia que fosse fácil fazer educação, então refleti em frente ao
espelho que as dores da sociedade podem ser resolvidas a partir dela mesma. No
espelho, vi o invisível. A invisibilidade que a história me conta sobre
igualdade. A invisibilidade da luta das mulheres. Entre o espelho e o futuro,
vi esperança e passei a sonhar com a dignidade. Dignidade que meus futuros
filhos e filhas possam ter aprendendo com o passado a escrever novas páginas
mais justas.
Que
não se aponte o dedo para Benazir Bhutto, ela que rompeu fronteiras sendo a
primeira mulher a ocupar um cargo de chefe num Estado muçulmano. Pois “Benazir
resiste, o olho que existe é o que vê”.
Do
mesmo Paquistão, lugar que a mim não é sinônimo de guerra, mas sim de coragem,
que assim como Benazir, a coragem e o ativismo da mulher nova (a mais jovem a
ganhar um Nobel da Paz) como Malala Yousafzai também vem de lá, porque a
educação não deve ser direito reservado a apenas alguns. Ela que, com sua
sabedoria, defende a educação a longo prazo como melhor investimento, em
especial para o desenvolvimento feminino.
A
Malala que incomodava. E seu crime? Foi se manifestar contra a proibição de
estudos para as mulheres em seu país, pelo governo talibã. Tentaram silenciar
Malala, falharam. Aos 15 anos, baleada na cabeça, renasceu.
Longe
do Paquistão, em um país teoricamente democrático, algo parecido. Também
quiseram silenciar uma mulher, negra e de origem humilde, Marielle Franco. Não
da mesma forma, mas também falharam. Tragicamente, ela perdeu a vida, porém
falharam porque não conseguiram silencia-la. Sua voz foi ouvida ainda mais
longe e continua presente, fazendo surgir o grito da luta de milhares pelo
Brasil afora.
Quero
a força da voz de Aretha Franklin ecoando e resistindo as barreiras sociais
impostas as mulheres negras. Quero ver meus filhos incentivados a ler e
entender a riqueza que contém a cultura negra. Também compreendendo as
diferenças sociais entre mulheres brancas e mulheres negras.
Quero
mais a ousadia de Kathrine Switzer, que correu, no sentido literal da palavra,
atrás da igualdade de gênero. A primeira mulher a participar de uma maratona, a
de Boston em 1967, tentaram impedi-la, ela resistiu. Estava decidida a mudar a
história do esporte. Ela soube bem como largar na frente!
Quero
aprender sobre essas histórias. A história de verdade. A história que me conta
o poder e a luta das mulheres, sem nos esconder a dívida histórica que o
patriarcado possui.
Um
dia soube da história da professora Gina Vieira Ponte, na capital do país. Ela
que assim como eu e talvez você, um dia sonhou com um Era uma Vez “a menina que sonhava que a escola era um lugar
mágico”. E a partir daí, hoje, torna esse sonho real aos alunos que ela
leciona. Por uma questão de humanidade, ela não deixa passar a oportunidade de
falar dos direitos das meninas e mulheres em sala de aula.
Fiquei
felicitado com tamanha sensatez e pertinência: "Todo mundo fala que os
jovens viram as costas para a escola, mas é a escola que vira as costas pra
eles. A gente tem uma educação pra obediência e subordinação e não para a
construção do pensamento crítico ou para a criança aprender a se
relacionar." Quero mais professores encorajados a debater gênero de forma
fundamentada.
Não
quero apenas meninos abrindo portas, quero cidadãos que reconhecem os
privilégios de ser homem numa sociedade arcaica. Igualmente não quero vê-los
entregando flores se o cartão levar sinônimos de hipocrisia. Quero respeito e
reconhecimento.
Quero
ver no futuro, crianças e adolescentes que sejam interpretes da literatura, da
música e que possam a partir da arte compreender o quão belas são as diversas
manifestações culturais. Sem preconceitos ou conceitos equivocados. Que todos
entendam que “você é seu próprio lar”.
Queria
poder contar a história a eles não só de pseudônimos escritos por poetisas tão
magnificas. Quero vê-los lendo Matilde Campilho os cobrindo com os abismos de
suas mulheres, tortuosos, mas que possam ser infindos e abissais de conquistas.
Quero,
olhos nos olhos, entender a alma
feminina e que as mulheres de Atenas, possam
desconstruir o patriarcado.
Desejo
que possamos conhecer não apenas parte da história, afinal a educação e a
cultura são direitos humanos. Que todos saibam da importância das mulheres
citadas e de tantas outras que não nos são mostradas. E só através da educação
e da cultura será possível. A educação de casa, a educação escolar, a cultura
que nos oferece tanto conhecimento, que ela seja exaltada.
Que eu possa, no
mesmo espelho que refletiu o invisível, ver aos poucos a dignidade aparecer.
Que a igualdade siga junto derrubando as Bastilhas.
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