Por Joel Cavalcante
Por
muito tempo os comentários e as piadas contra pessoas LGBT, negras,
gordas, de religiões não majoritárias eram tidas como normais na
escola. Na década de 1990, onde estudei, por exemplo, chamar o outro
menino de viado ou fresco era uma coisa comum. Bastava ser um pouco
afeminado para ser estigmatizado pelo grupo. As pessoas gordas eram
chamadas de baleias. Algum praticante ou filho de praticante de
alguma religião afro era tido como servo do demônio. Nenhuma
professora ou professor fazia nada. Pelo contrário, a agressão
verbal (quando ficava apenas nisso) era uma forma de chamar a atenção
da vítima para que mudasse de comportamento e ficasse igual às
outras pessoas.
Naquele
tempo, até os evangélicos, pasmem, eram discriminados! Como o
Brasil e, sobretudo os municípios interioranos, eram
majoritariamente de religião católica, todos que estivessem à
margem eram alvos de preconceitos e discriminações. Lembro de ouvir
muita gente falar que os “crentes” não prestavam porque negavam
Nossa Senhora. No mês de maio, mês mariano, era constrangedor como
as escolas eram preparadas para reverenciar a mãe de Jesus, levando
todos para auditórios onde eram cantadas canções católicas,
sobretudo de Padre Zezinho, sem levar em conta outras crenças
presentes.
O
tempo passou. Felizmente. Hoje os preconceitos e as discriminações
contra gays, lésbicas, transexuais, negros, pessoas gordas,
praticantes de outras religiões são nomeados (se bem que o racismo
já era crime há alguns anos no Brasil). Pessoas que antes eram
discriminadas, como os evangélicos, passaram a agir de forma a
retirar ou impedir direitos de outros grupos vulneráveis, como os
LGBT e os direitos das mulheres.
Nas
escolas é possível, pelo menos nas da rede estadual de ensino, ver
cartazes contra a homofobia, o racismo, o assédio sexual. Muitos
cursos foram ofertados para os profissionais da educação
presencialmente ou na modalidade à distância. Até espaços para
denúncias são divulgados como o Disk 100. Em alguns lugares,
coletivos feministas e LGBT foram organizados. Mesmo assim, ainda
encontramos casos de homofobia, de racismo e de intolerância
religiosa.
O
pior de tudo é saber que o Brasil anda retrocedendo no tempo. O
presidente da república atual foi eleito com base no discurso de
ódio, vociferando homofobia, racismo e sexismo. Aliás, quem não
lembra o aumento de casos de violência no primeiro turno da eleição
presidencial e, especialmente, no segundo turno, quando até um
assassinato ocorreu em Salvador?
Os
dias atuais me fazem voltar aos anos 90. O medo está tomando conta
de muita gente. As ameaças veladas ou explícitas deixam muitos/as
professores/as acuados. Recentemente, um professor de uma escola
privada de São José dos Campos – SP foi demitido por criticar o
mandatário da nação. Conheço docentes que estão com receios de
falar sobre orientação sexual, diversidade de gênero, racismo em
suas aulas. Qualquer coisa hoje pode tida como doutrinação. Os dias
não são bons. Mas o tempo passa e essa nuvem cinza que paira sobre
o Brasil não ficará para sempre.
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