segunda-feira, 15 de abril de 2019

Retrocessos

Por Joel Cavalcante


Por muito tempo os comentários e as piadas contra pessoas LGBT, negras, gordas, de religiões não majoritárias eram tidas como normais na escola. Na década de 1990, onde estudei, por exemplo, chamar o outro menino de viado ou fresco era uma coisa comum. Bastava ser um pouco afeminado para ser estigmatizado pelo grupo. As pessoas gordas eram chamadas de baleias. Algum praticante ou filho de praticante de alguma religião afro era tido como servo do demônio. Nenhuma professora ou professor fazia nada. Pelo contrário, a agressão verbal (quando ficava apenas nisso) era uma forma de chamar a atenção da vítima para que mudasse de comportamento e ficasse igual às outras pessoas.

Naquele tempo, até os evangélicos, pasmem, eram discriminados! Como o Brasil e, sobretudo os municípios interioranos, eram majoritariamente de religião católica, todos que estivessem à margem eram alvos de preconceitos e discriminações. Lembro de ouvir muita gente falar que os “crentes” não prestavam porque negavam Nossa Senhora. No mês de maio, mês mariano, era constrangedor como as escolas eram preparadas para reverenciar a mãe de Jesus, levando todos para auditórios onde eram cantadas canções católicas, sobretudo de Padre Zezinho, sem levar em conta outras crenças presentes.
O tempo passou. Felizmente. Hoje os preconceitos e as discriminações contra gays, lésbicas, transexuais, negros, pessoas gordas, praticantes de outras religiões são nomeados (se bem que o racismo já era crime há alguns anos no Brasil). Pessoas que antes eram discriminadas, como os evangélicos, passaram a agir de forma a retirar ou impedir direitos de outros grupos vulneráveis, como os LGBT e os direitos das mulheres.
Nas escolas é possível, pelo menos nas da rede estadual de ensino, ver cartazes contra a homofobia, o racismo, o assédio sexual. Muitos cursos foram ofertados para os profissionais da educação presencialmente ou na modalidade à distância. Até espaços para denúncias são divulgados como o Disk 100. Em alguns lugares, coletivos feministas e LGBT foram organizados. Mesmo assim, ainda encontramos casos de homofobia, de racismo e de intolerância religiosa.
O pior de tudo é saber que o Brasil anda retrocedendo no tempo. O presidente da república atual foi eleito com base no discurso de ódio, vociferando homofobia, racismo e sexismo. Aliás, quem não lembra o aumento de casos de violência no primeiro turno da eleição presidencial e, especialmente, no segundo turno, quando até um assassinato ocorreu em Salvador?
        Os dias atuais me fazem voltar aos anos 90. O medo está tomando conta de muita gente. As ameaças veladas ou explícitas deixam muitos/as professores/as acuados. Recentemente, um professor de uma escola privada de São José dos Campos – SP foi demitido por criticar o mandatário da nação. Conheço docentes que estão com receios de falar sobre orientação sexual, diversidade de gênero, racismo em suas aulas. Qualquer coisa hoje pode tida como doutrinação. Os dias não são bons. Mas o tempo passa e essa nuvem cinza que paira sobre o Brasil não ficará para sempre.

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