Por Joel Cavalcante
Tenho
um apreço enorme pelos Direitos Humanos. Meus primeiros contatos com
a temática foram em 2009, por meio do Twitter, a partir da interação
com gente que milita há anos na área. Decidi estudar Direito assim
que me formei em História. Queria poder atuar na defesa das
minorias.
Quando
entrei no curso de Direito fui logo saber da grade curricular. Tive
uma decepção. Não havia uma cadeira sobre Direitos Humanos na
UEPB. Conversei com um professor substituto na época e ele ficou
ministrando encontros para discutir o tema.
Posteriormente,
à medida que eu ia me envolvendo com a temática surgiram contatos
que me levaram à militância. Primeiro ao Movimento do Espírito
Lilás (MEL) e depois ao Conselho Estadual de Direitos Humanos e ao
Comitê Paraibano de Educação em Direitos Humanos vinculado a UFPB.
Cada
vez eu estudava e me aprofundava mais juntamente com a militância,
minha paixão crescia. Quando entrei no Mestrado em Educação um dos
referenciais teóricos de minha pesquisa sobre gênero nos planos de
educação era os Direitos Humanos.
Entre
as várias leituras e debates, um autor me chamou a atenção. O
espanhol Joaquin Herrera Flores apresenta uma concepção distinta do
que eu havia, até então, aprendido e falado sobre Direitos Humanos.
Muitos
militantes usam a concepção de Direitos Humanos que é baseada na
ideia de dignidade humana de Kant. Dignidade seria aquele valor que
não pode ser medido. Todos seres humanos têm pelo simples fato de
serem quem são. Simples assim.
Quando
comecei a ler Herreira Flores, no seu livro “A (re)invenção dos
direitos humanos” tive um choque. Ele contraria a perspectiva
tradicional de Direitos Humanos e dignidade humana. Para ele, os
Direitos Humanos são resultados provisórios das lutas sociais por
dignidade. A dignidade, ademais, é vista como acesso igualitário
aos bens necessários para tornar a vida digna.
Herreira
Flores coloca a dificuldade em dizer para uma pessoa que ela tem
Direitos Humanos e dignidade quando o seu cotidiano mostra o
contrário. Por isso, uma concepção material de dignidade e dos
Direitos Humanos é necessária.
A
ideia de que temos direitos desde o nascimento pode nos levar a uma
situação de conflito entre o que é dito e o que é posto. Por
isso, Herrera Flores coloca que os
direitos humanos, mais que direitos são processos, resultado sempre
provisório das lutas que os seres humanos colocam em prática para
ter acesso aos bens necessários para a vida.
Importante
ressaltar a noção de que os resultados das lutas são sempre
provisórios, ou seja, nada garante que vai ficar concretizado para
sempre. O que temos visto no país nos últimos anos com a reforma
trabalhista, a nova política educacional, a emenda constitucional
que congelou os investimentos nas políticas públicas por vinte anos
e a proposta de reforma previdenciária mostram que nada está certo.
Portanto,
direitos podem ser conquistados e perdidos na mesma proporção, já
que eles são sempre resultados das lutas provisórias por dignidade
humana. Não estão dados pela natureza. Pelo contrário, nascem das
lutas populares e precisam das lutas para permanecerem em vigência.
Se o único critério para tê-los fossem o fato de sermos seres
humanos, segundo o pensamento de Herrera Flores, dificilmente
perderíamos com tanta facilidade.
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