Descrição
para cegos: Guilavogui, jogador do Wolfsburg da Alemanha, em atividade com a
faixa de capitão nas cores do arco-íris Foto: Tobias Schwarz / AFP
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Por Samuel de Brito
A realidade em vários lugares é
preocupante. Em 72 países do mundo a homossexualidade é crime. Em 13, leva a
morte. O Brasil é o país em que mais se matam homossexuais. A masculinidade
tóxica, em que a força física é tudo e o emocional não tem espaço pois seria
uma fraqueza, está presente na sociedade e reflete também no esporte. A
dificuldade em assumir sua orientação sexual no meio dos atletas de futebol,
por exemplo, passa pelo ambiente extremamente voltado para a afirmação da
masculinidade, pela aceitação nos vestiários e no convívio com os colegas.
Recentemente
através das redes (anti)sociais o debate sobre a presença de transexuais nos
esportes de alto nível tem sido acalorado. Isso ocorre pela presença de
Tiffany, uma mulher trans que joga pelo Vôlei Bauru, equipe de São Paulo. Ela
foi a primeira a atuar na Superliga (campeonato de elite do vôlei brasileiro).
De um lado os sensatos que reconhecem a
liberdade individual e o direito de a pessoa ser quem quer. Do outro, os que
utilizam o argumento fraco, preconceituoso e ignorante que biologicamente a
atleta teria vantagem sobre as outras. Enquanto não há comprovação de que os
fatores biológicos influenciam no desempenho positivo da atleta, a Confederação
Brasileira de Vôlei (CBV), corretamente, garante o direito de atuar da atleta.
No
âmbito do futebol, durante a Copa do Mundo da FIFA, realizada no ano passado na
Rússia, a entidade decidiu que iria multar as seleções que seus torcedores
entoassem cantos homofóbicos nos estádios. E o fez. A seleção mexicana foi multada
em 10 mil francos suíços (cerca de 37 mil reais) após a estreia na competição
contra a Alemanha por esse motivo.
Também
em 2018, mas no Brasil, durante a campanha eleitoral, a torcida do Atlético-MG
durante um clássico contra o Cruzeiro entoou o grito de “Ô cruzeirense, toma
cuidado, o Bolsonaro vai matar viado”. A equipe foi denunciada pelo artigo 191
do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e punida com multa.
Por
diversas vezes ouvimos nas arquibancadas a expressão “time de viado”. O
jornalista William De Lucca postou em seu twitter recentemente seu incomodo com
a expressão proferida enquanto ele assistia a um jogo do Palmeiras, seu time. O
jornalista, que é homossexual, atentou para o debate dizendo que “nesse
sentido, eu também sou viado”. Sendo assim, antes de xingar lembre-se que “todo
time é time de viado”. Existe homossexual em todas as torcidas e sexualidade é
diversidade. A intolerância não pode ter mais espaço na nossa sociedade.
Era
comum também entre algumas torcidas o grito de “bicha” após a cobrança do tiro
de meta pelo goleiro do time adversário. O Superior Tribunal de Justiça
Desportiva decidiu então começar o punir as equipes. A ação foi de certa forma
eficaz, os gritos diminuíram e hoje, praticamente não se repetem.
Apesar
disso, nem tudo são flores, além da multa ser relativamente baixa, apenas ela
não resolve. Além das medidas punitivas é necessário que os clubes tenham uma
postura de conscientização e educação.
Na
Alemanha, a equipe do Wolfsburg lançou no início da temporada, ainda no meio do
ano passado, uma campanha para combater o preconceito por orientação sexual no
futebol. Durante todo o ano a braçadeira de capitão terá as cores do arco-íris,
símbolo global da comunidade LGBT+.
A ação foi a primeira de um clube de futebol no
mundo, o jogador que certamente entrará para a história e utilizou a faixa foi
o francês Josuha Guilavogui que, assim como o clube, enfatizou a importância de
utilizar o esporte mais conhecido do mundo como meio educativo.
Também
na Alemanha diversas ações semelhantes passaram a acontecer. Outra equipe, o
Werder Bremen, do norte alemão utiliza as cores da bandeira LGBT+ nas bandeiras
da linha de canto (as populares bandeirinhas de escanteio). No meio do símbolo,
o escudo do time se faz presente.
A
Alemanha vem mostrando que é precursora não apenas no avanço do futebol dentro
do gramado, como a implantação do árbitro de vídeo ou a quarta substituição na
prorrogação, mas também nas questões sociais. Afinal, o futebol é um esporte
global, o Campeonato Alemão é vendido e transmitido em milhares de países. Como
forma educativa, o futebol alemão pretende mudar a própria cultura
preconceituosa do esporte.
Por
aqui, as entidades parecem dispostas a incentivar a inclusão no esporte. Apesar
do preconceito enraizado na sociedade e do ambiente, principalmente do futebol,
ser sinônimo de masculinidade, o esporte tem um papel fundamental e pode ser um
meio de conscientização presente nas mídias e no dia a dia das pessoas, podendo
ser fundamental na mudança cultural de uma sociedade.
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