terça-feira, 14 de maio de 2019

Enem 2019, pegadinha do malandro?

Descrição para Cegos : Imagem da logo do Exame Nacional do Ensino Médio. O desenho sugere um corpo humano em movimento circular, ao lado da palavra Enem (sigla) com a frase Exame Nacional do Ensino Médio abaixo/ imagem site do Inep

Por Natália Mélo

    Lendo os noticiários dos últimos dias sobre os cortes em investimento das Universidades e Institutos Federais e seus posicionamentos mostrando a impossibilidade de manterem-se abertas, me fez pensar nos estudantes que irão prestar o exame do Enem na, já polêmica, edição 2019.
    É polêmica mesmo. O presidente do Instituto realizador, Inep- O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Marcus Vinicius Rodrigues já foi demitido do cargo em 26 de março, ele que fora nomeado na gestão atual. Sua antecessora, Maria Inês Fini, da gestão Temer, foi afastada do cargo em 14 de janeiro.
     Marcus Vinicius ainda chegou a herdar a comissão que verificou as questões do Enem quanto à “pertinência com a realidade social”, nada mais do que uma busca do presidente da república em coibir expressões e análises usadas no dia a dia dos jovens, com verbetes que ele considera inadequados, como aconteceu com a propaganda do Banco do Brasil, que custou a demissão do seu diretor de marketing.
      Durante sua campanha eleitoral, o eleito presidente, declarou através de vídeo em sua rede social, no dia 09/11/2018, que “não admitiria dialetos secretos de gays e travestis e que o Brasil é conservador, e o Futuro Ministro da Educação deverá entender isso”. Chegou a dizer até que tomaria conhecimento da prova antes da aplicação.
      Claro que com tamanha revolta por parte da classe estudantil e principalmente de educadores com as declarações do então candidato à presidência, o Inep se posicionou no dia seguinte por meio nota, dizendo:  "Atualmente, por procedimentos previamente definidos para garantir o sigilo do Exame, apenas o Inep e parte da equipe da Gráfica contratada pelo INEP têm acesso à prova em ambientes restritos dentro do Inep e da gráfica. Todo processo de produção da prova conta com consultoria especializada de empresas de gestão de riscos que atestam a conformidade das etapas e indicam procedimentos que devem ser seguidos com vistas à manutenção do sigilo".
       Para quem não sabe, para o exame nacional, elaboram-se 3 versões bem diferentes, a partir do banco de questões. A primeira será a utilizada na data regular, um em data pública, que neste ano será nos dias 03 e 10 de novembro, e a segunda versão em outra data para jovens e adultos em regime fechado, só na Paraíba, mais de 500 provas foram aplicadas nesta modalidade ano passado, segundo a Secretaria de Administração Penitenciaria do Estado. Esta segunda versão é aplicada em dezembro, e para casos excepcionais, como vazamento, a terceira versão seria usada.
    Vale lembrar que, apesar de todos os anos termos denúncias de supostas fraudes, até agora nenhuma comprovação foi de fato apresentada, só tentativas isoladas, Já durante a aplicação e não na elaboração.
    A única exceção é a edição 2009, que como muitos devem lembrar, através de câmeras de segurança, foi possível ver um funcionário da gráfica que faz a impressão dos cadernos de prova, roubá-los, o que levou ao adiamento de outubro para dezembro, a fim de realização da impressão de novas versões.
    Como o roubo foi constatado muito próximo a sua aplicação e não se teria tempo hábil para confecção em gráfica e distribuição em tempo, tendo em vista o volume de inscritos, mais de 2,6 milhões, e a geografia brasileira com suas dificuldades de transportes e logística.
      Com tantas conturbações, depois da saída de Rodrigues, quem entregou o cargo foi o Diretor de Avaliação da Educação Básica, Paulo César Teixeira, diretor responsável pela realização do exame. Acompanhando o Diário Oficial da União, viu-se a demissão de 13 cargos importantes da educação, só no primeiro trimestre.
      Apesar desta descontinuidade de trabalho nos setores do MEC, provocado por estas saídas, o anuncio do corte em investimentos no ensino superior tem tirado o sono de estudantes, principalmente os de baixa renda. 
        Este, por exemplo, é o caso de Luana kelly, estudante do 3º ano da rede estadual paraibana, que demonstra claramente o seu medo de não ter oferta de vagas para o curso de psicologia na UFPB para 2020: “ Venho estudando com preparação do cursinho do estado faz 2 anos, já vivo uma pressão muito grande por si só, só por ser concluinte, por ter de escolher uma profissão para a vida toda. Filho de pobre não tem tempo nem dinheiro e até mesmo direto de mudança de curso ou área de atuação lá na frente, porque tem que trabalhar para se manter e as vezes até manter a família. Focada em manter o meu equilíbrio não respiro com muito medo, nem dormi bem esses dias, após o anuncio do corte, pois estou vendo a hora a Federal não abrir vagas para mim. É meu futuro e de vários jovens e vem alguém (ela se referiu ao presidente) que nem sei se tem ensino superior, ou se tem, não sabe o valor dele e me tira essa conquista mesmo antes de fazer a prova.”
        Confesso que a ouvi segurando as lágrimas. Sei como o estudo do ensino superior me foi uma meta de vida e vi muita gente ficando pra trás por falta de oportunidade. O filho do pobre (diga-se de passagem, pobre financeiramente, existe beleza e riqueza na teimosa e verdadeira luta em resistirmos e existirmos) tem muitos sonhos atropelados pela necessidade de sobrevivência.
         Na Paraíba, os cortes serão aplicados na UFPB, UFCG e IFPB. Falamos de um montante de R$91 milhões de reais, que acabam por também atingir a economia do estado, pois acaba sendo dinheiro que não irá circular, já que vários serviços e suas prestações seriam pagos com estes recursos.
         Na UFPB,  que receberá o maior contingenciamento, mais de R$44 milhões, toda vigilância é paga com este valor, serviços terceirizados, insumos para laboratórios, água, energia, material de expediente, limpeza. Segundo a Reitoria, pode-se levar a demissão de 700 profissionais, bolsas financiadas pela própria instituição serão cortadas e não se faz declaração sobre abertura de vagas para 2020. Mas já se sabe, contudo, que após outubro não se teria como pagar a estrutura para funcionamento como um todo.  
         A UFCG perdeu R$27 milhões, com áreas similares a UFPB e já declarou que o montante que terá direito só dará funcionalidade até setembro, ou seja, para mais 4 meses.
        Como o Enem permite concorrência nacional e o número de vagas é bem abaixo da procura, o Sisu, Sistema de Seleção Unificada, oferecerá em todo o país, para primeiro semestre letivo de 2020 cerca de 235 mil vagas em instituições públicas. No semestre seguinte o número é menor, aproximadamente 57 mil, segundo o próprio site. A estimativa de vagas é igual ao ano passado, e menor que 2018 que foi de 239 mil, só no primeiro semestre. Lembrando que 5,5 milhões de inscritos concorreram a vagas nas 129 instituições públicas espalhadas pelo país.
         Você pode até dizer: “O Enem dá direito a concorrer ao Financiamento Estudantil, Fies, ao Programa Universidade para Todos (ProUni) com bolsas integrais e parciais em Faculdades e Universidades particulares isso vai resolver!” Jura?
          Se você colocar na barra de busca do google por número de devedores, a primeira opção é no Brasil e a segunda Fies, que em 2018 gerou uma inadimplência de mais de R$10 bilhões de reais aos cofres públicos, com estudantes de baixa renda que acreditaram poder com as prestações pós curso. Segundo o MEC, mais de 450 mil ex-estudantes que já estão na fase de amortização, não estão em dia com o pagamento das parcelas.

Descrição para cegos: barra de busca do google em que se digitou a frase ”número de devedores” surgiu as opções para complemento no Brasil  em primeiro lugar e em segundo FIES.

          E você acha que a novela termina aqui? Ainda tivemos a gráfica que ganhou a licitação de impressão das provas em 2016 decretar falência. A convocação da segunda colocada no certame, alegando cuidado para não haver atrasos na preparação do material, anuncio de economia na verificação de digitais, sendo substituída por uma medida ainda não explicada oficialmente, além do presente da diminuição dos espaços para rascunho, que diga-se de passagem, já não era bom, ficará pior ainda, com a desculpa de se ter redução de custos, mas, não ficou bem explicado.




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